domingo, 18 de setembro de 2011

A Guerra

      Estávamos sentadas, entre os galhos das árvores. Tínhamos uma visão extraordinária, provavelmente muito próxima á dos deuses. Estávamos todas de aljavas nas costas, munidas de vinte e cinco flechas e mais uma bolsa com mais flechas e setas aprontadas de última hora para cada dupla.
      Olhei rápido para o oeste, surpreendida. Um berro. Começara as provocações para a guerra. Minha vista, um tanto falha àquela altura da vida, estava um pouco enuviada, mas conseguia ver. Enxergava nitidamente o herói de nossos inimigos avançando no amplo espaço de batalha que dividia as duas tropas adversárias. Um homem moreno, gordo, de membros grandes e grossos, alto e musculoso. Não possuía cabelo, era igual aos párias de minha tribo. Não parecia possuir barba. Era um ser estranho, comparado aos homens de minha tribo. Nós tínhamos pinturas espalhadas pelo corpo, retratando nossas almas e nossas vidas, os homens possuíam barba e madeixas longas. Sim, aquele era um povo estranho. Um povo estranho que tinha nos insultado.
E lá estávamos, para guerrear.
      O herói inimigo começou as provocações. Os estranhos não tentaram uma reunião de tribos para melhorar a condição da guerra ou mesmo para uma tentativa de entrarem em acordo para não fazê-la; um pedido de desculpas rechonchudo. Nada. Era um povo que não respeitava as leis dos Deuses e que não merecia existir. Mereciam ser punidos, sim. Punidos. Mas não com uma guerra daquelas...
      Olhei para minhas irmãs, sentadas nos ganhos mais grossos e altos da árvore. Não estariam seguras por muito tempo. Eu não estaria segura por muito tempo. Mas iríamos nos defender. Ensinei-as a manejar espadas, machados leves, a atirar com flechas, a lutarem sem armas. Tinha feito tudo que podia para muni-las de segurança, assim como as outras mulheres. As jovens, virgens e grávidas foram enviadas escondidas para o reino amigo de meu companheiro. Estavam seguras lá. Enquanto nós ficamos em cima das árvores como arqueiras, e lutamos em cima da terra, como homens. Sim, como homens. Os seios foram apertados e espremidos contra panos e mais voltas de panos, para deixar-nos livres como os homens. Usamos roupas de homens, porém mais curtas e ajustadas para nossos corpos. E algumas cortaram os cabelos, para serem confundidas. Éramos verdadeiros homens. Naquela guerra, iríamos ser um só, junto aos nossos companheiros. Nossas almas cantariam na mesma sintonia a vida, assim como cantariam a morte.
      Uma lágrima escorreu por meus olhos. Queria as ver felizes, todos felizes, gordos e sorridentes. Mas havia a guerra. Pensamentos de criança que passam pela cabeça as vezes são tão puros e ingênuos que fazem-nos voltar a crer que o mundo era simples daquele jeito...Mas não é.

      Começou a luta, com o barulho e faíscas dos metais ao se encontrarem. Meu companheiro venceu. Nossos homens urraram, gloriosos. As mulheres ficaram quietas, porem com a confiança renovada. Iríamos vencer, era o que pensávamos.

      Estourou a guerra. Colocamos as flechas nos arcos e atiramos longe os projéteis; eram poucos os que não acertavam os alvos. Conseguimos assim, uma boa liderança e iríamos fazer de tudo para continuar com ela.
      Nós iríamos lutar.

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